terça-feira, 18 de dezembro de 2018

MUSEÓLOGO? PARA QUÊ


Por: Maria José dos Santos Alves
Texto enviado pela colaboradora e estagiária voluntário  do Museu Julio de Castilhos



Diz o ditado popular quem vive de passado é museu, mas podemos também dizer   quem vive e está por trás deste passado  é o profissional museólogo , que tem toda uma relevância  dentro do museu, este profissional que tem a formação no curso de museologia existente em diversas  instituições do país e  no dia 18 de dezembro comemoração o seu dia. A assim convidamos o leitor a conhecer um pouco sobre a trajetória referente  criação e todo o desenvolvimento do curso de museologia no Brasil. 
                                                                               


O ramo da museologia começa a tomar forma com as primeiras manifestaçãoes de preocupação com a preservação  do patrimônio brasileiro desde o século XVIII, mostrando pequenos sinais de inquietação, acentuando-se na década de 20, com projetos de lei e proposta de catalogação, mas foi em 1932, com a criação do Curso de Museus, no Museu Histórico Nacional que a profissão começou a se estabelecer de fato. Apenas na década de 1960, o uso do termo “museólogo” tornou-se oficial, por meio do decreto nº 58.800 de 13 de Julho de 1966, onde os alunos do Curso de Museus, ao se formarem, receberiam o diploma de museólogo, mas  a profissão de Museólogo , só seria  regulamentada  através da  Lei nº 7.287 , de 18 de dezembro de 1984 e autoriza a criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Museologia.
                                                             
                                                                                  


A qualificação para exercer a profissão de museólogo,  está enquadrada nos seguintes quesitos, por exemplo, no Art 2º-I– dos diplomados em Bacharelado ou Licenciatura Plena em Museologia, por escolas ou cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação; II – dos diplomados em Museologia por escolas estrangeiras, reconhecidas pelas leis do país de origem, cujos títulos tenham sido revalidados no Brasil, na forma da legislação pertinente;IV – dos diplomados em outros cursos de nível superior que, em 18 de dezembro de 1984, contem, pelo menos, 5 (cinco) anos de exercício de atividades técnicas de Museologia, devidamente comprovados. Art 18. Para o exercício da profissão referida no artigo 2º  em qualquer modalidade de relação trabalhista ou empregatícia, será exigida como condição essencial a apresentação da Carteira Profissional emitida pelo respectivo Conselho.

                                                                                  


É importante saber  as  atribuições da profissão de Museólogo, que consta no Art. 3º  com exemplo nos seguintes itens :  II - planejar, organizar, administrar, dirigir e supervisionar os museus, as exposições de caráter educativo e cultural, os serviços educativos e atividades culturais dos museus e de instituições afins; III - executar todas as atividades concernentes ao funcionamento dos museus; X - dirigir, chefiar e administrar os setores técnicos de Museologia nas instituições governamentais da administração pública direta e indireta, bem assim em órgãos particulares de idêntica finalidade.

                                                                                  


O Código de Ética , referente ao profissional  Museólogo, aprovado em 23 de dezembro de 1992 , tem como objetivo conduzir e ter os seguintes compromissos com a  profissão, como consta por exemplo nos artigos :   Art. 1º  - Estabelecer a forma pela qual os museólogos devem pautar sua atuação, indicando normas de conduta, regulando suas relações com a classe, com os poderes públicos, a sociedade e o público em particular. Artigo 2.º – Compete ao museólogo dignificar a profissão a que pertence com seu mais alto título de honra, tendo em vista a elevação moral e profissional da classe, reconhecida através de seus atos.Art. 3.º – Obriga o museólogo a observar os princípios museológicos, servir à coletividade, respeitar as atividades de seus colegas e de outros profissionais, bem como as leis e normas fixadas para exercício de sua profissão nos Estatutos do Conselho Internacional de Museus – ICOM/UNESCO. Art. 4º nos itens ; b- Ter sempre como princípio à honestidade, o respeito à legislação vigente sobre patrimônio e cultura, devendo assumir posição vigilante no momento da feitura das leis relacionadas na sua área profissional e da criação de novas instituições museológicas ou cursos de formação e aperfeiçoamento vinculados à disciplina museológica; c- Cooperar para o progresso da profissão, trazendo sua contribuição intelectual e material para as atividades profissionais, mediante o intelectual e material para as atividades profissionais, mediante o intercâmbio de informações e apoio às associações de classe, escolas e órgãos de divulgação técnica e científica; f- Combater o exercício ilegal da profissão e denunciar todo ato lesivo à museologia, bem como a expedição de títulos, diplomas, licenças, atestados de idoneidade e outros que estejam nas mesmas condições; j- Defender a profissão, prestigiando suas entidades representativas;

                                                                               
   

   
A singularidade do Museólogo, está em relação a independência  pessoal, ainda assim deve reconhecer que nenhum negócio privado ou interesse profissional está completamente desvinculado dos interesses de sua instituição. É notável a evolução do museólogo como profissional, iniciando na década de 30, com profissionais de formação basicamente técnica, como exemplificado no livro do Curso de Museus, “Introdução à técnica de museus e com o Seminário Regional da Unesco em 1958, ainda com preocupação na área técnica mas já implantando ideias diferentes em relaçao ao enfoque do museu, abordando um novo tema, a função educativa dos museus, assunto que renderia debates e colocação em 1972, com a Declaração de Santiago do Chile, onde apresenta-se o conceito de museu integral, o início de um novo fazer museológico, não mais apenas técnico-administrativo, mas consciente de sua função social.

                                                         
                        
O desafio de se profissionalizar enquanto museólogo,  esta em ser  um profissional engajado, estar ciente do que é ser museólogo, suas competências, proibições, e deveres como agente cultural e  ser um profissional em movimento, compreendendo que sua função do presente é superar a imagem de um profissional excessivamente conservador e arcaico, mas não apenas se desvinculando do conceito de museu atual, mas sim agregando novos valores a essa instituição, sempre tendo em mente que o museu é uma instituição de seu tempo ,  segundo Mario Chagas ( 2006) “tanto poderá ser a imagem conformadora, cristalizada em conteúdos e práticas regressivas, quanto poderá ser a imagem transformadora, projeta no aqui e agora , no devir da sociedade “.  Assim podemos ter a certeza da importância do profissional Museólogo, que está diretamente ligado  ao comprometimento com : preservação, pesquisa e comunicação do museu e  sempre conectado com uma sociedade em movimento.     




Referências:
ARAÚJO, Marcelo Mattos; BRUNO, Maria Cristina Oliveira (org.). A Memória do Pensamento Museológico Contemporâneo. São Paulo: Comitê Brasileiro do ICOM, 1995.
BRASIL. Lei n.7.287 de Dezembro de 1984. Dispõe sobre a Regulamentação da Profissão de Museólogo. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7287.htm>. Acesso em: 27 maios 2015.
COFEM/BRASIL. Código de ética profissional do museólogo. Disponível em: <http://cofem.org.br/?page_id=22#codetica>. Acesso em: 27 maios 2015


terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Arno Philipp



Arno Philipp nasceu em Zwickau, Saxônia, Alemanha, em 11 de janeiro de 1870 e faleceu em Porto Alegre em 31 de outubro de 1930.
Foi educadormilitarescritortradutorjornalista e político teuto-brasileiro. Ele foi um dos primeiros especialistas em esperanto do Brasil, juntamente com Francisco Valdomiro Lórenz, tendo respondido ao chamado impresso no final do Unua Libro (Primeiro Livro), o livro básico do esperanto, a língua internacional, publicado por L. L. Zamenhof, em 26 de julho de 1887.
Filho de August Ludwig Philipp e Ida Louise Grimm, casou-se em 1895 com Margareta Wolf, com quem teve três filhos: Ruth, Paul e Hans. Frequentou o Ginásio Real de Zwickau. Era luterano e chegou ao Rio Grande do Sul em 1889. Em viagem de passeio, porém, resolveu radicar-se em Porto Alegre. Recebeu diploma de professor normalista em 1892 e, a partir de 1900, trabalhou no Colégio Julio de Castilhos.
Quando jovem estudante ingressou no jornal Deutsche Zeitung, na época o jornal alemão mais antigo da América do Sul. Foi discípulo de Wilhelm Schweitzer em matéria de redação, quando esse retornou à Europa em 1893, assumiu o posto de redator-chefe do jornal, cargo que exerceu até 1917, quando cessaram todas as atividades jornalísticas em língua alemã no Brasil devido à Primeira Guerra Mundial. Em seus primeiros anos de trabalho, seu foco era informar os leitores sobre acontecimentos relativos à Revolução Federalista. Este jornal foi o único da comunidade alemã que apoiava as medidas do governo gaúcho durante esse episódio da história rio-grandense.



Em 1897, acompanhou Julio Prates de Castilhos em três viagens pelo interior, visitando as cidades de Caxias do Sul, Santa Cruz e Ijuí, sendo convidado para entrar na política, tornando-se um dos mais dedicados colabores de Julio de Castilhos. Nestas viagens, Arno Philipp era a pessoa mais indicada para expor a Julio os problemas da zona de colonização alemã.
Foi deputado provincial eleito em 1905, tendo sido reeleito sucessivamente até 1928, quando abandonou a política por problemas de saúde. Fez parte da nominata governista a pedido de Borges de Medeiros. Durante esse período, Arno Philipp foi o único alemão naturalizado brasileiro que exerceu um mandato político. Na carreira militar, chegou à patente de tenente-coronel da Brigada.
Traduziu para o alemão várias obras de José de Alencar e do Visconde de Taunay, como “Inocência”, “As minas de prata”, “O tronco do ipê”, “Cinco minutos” e “A viuvinha”. “Inocência” foi editado, em três volumes, pela Editora Rotermund, enquanto as outras traduções acham-se dispersas nos diversos jornais e almanaques da época. 
Também publicou vários trabalhos em língua alemã, entre novelas, contos humorísticos, contos para crianças e sobre motivos folclóricos brasileiros, com o fim especial de se tornar conhecido na Alemanha. Em 1924, elaborou e organizou grande parte da publicação comemorativa ao primeiro centenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul.

 Pesquisa e texto: Claus Farina - Historiador/Analista em Assuntos Culturais
Fontes:
Wikipédia
Jornal Diário de Noticias 27/03/2018
Jornal Folha das Máquinas 13/11/2018
Consultado em 27/11/2018

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A Integração Cultural Pré-Colombiana na América do Sul – O Peabiru


A Integração Cultural Pré-Colombiana na América do Sul – O Peabiru

Por Claus Farina - Historiador e Analista em Assuntos Culturais

Estradas e caminhos incas


O termo integração significa ato ou efeito de integrar-se; reunião de um território, uma população, uma minoria; coordenação que permite a passagem de um serviço de transporte a outro, de uma rede a outra, num ponto determinado do percurso; incorporação de grupo minoritário a uma sociedade, com os mesmos direitos dos grupos majoritários (Larousse 2001, p. 513 in Altamirano, Alfredo José, 2008). No processo histórico de construção dos laços culturais dos povos indígenas sul-americanos, tem-se pesquisado a importância do caminho do Peabiru como um fator de integração.  


Traçado principal do Peabiru e seus ramais

O Peabiru é um antigo sistema de caminhos pré-colombiano com mais de 4 mil km de extensão, unindo o oceano Atlântico ao oceano Pacífico, cuja construção e autoria é motivo de debate e discussão. Para alguns pesquisadores, como Rosana Bond e o historiador Igor Chmyz, esse caminho foi criado pelos indígenas brasileiros (Ge ou Guarani). Já, para o historiador Luiz Galdino, ele seria de origem inca. Existe uma terceira hipótese que defende que o Peabiru foi uma obra tanto de indígenas brasileiros quanto dos incas ou mesmo dos pré-incas. Fora do circuito acadêmico, o Peabiru aparece vinculado ao mito indígena de Pay Sumé, Pay Tumé ou Tonapa (na Bolívia e no Peru), descrito como um herói civilizador, homem branco de meia idade, barbado, de cabelos longos e vestido com uma túnica, que pregava e transmitia conhecimentos como a agricultura, o uso do fogo e a organização social; depois foi interpretado, pelos missionários jesuítas, como o apóstolo São Tomé.
O Peabirú saía de Cusco, atravessava o rio Madre de Dios (Peru), Chile, Beni (Bolívia), Rondônia, Mato Grosso, Bolívia, Paraguai, Paraná, Santa Catarina, e São Paulo (Brasil), com ramais ligando a Amazônia ao Rio Grande do Sul e ao Rio da Prata.

Peabiru



Segundo Luis Galdino, próximo a essa rota existem petróglifos, formando um corredor de inscrições rupestres, em estilo “boliviano”. A existência de minas pré-colombianas em seu itinerário, de vestígios da cultura megalítica do período formativo, orientados astronomicamente e as “pegadas” gravadas na rocha atribuídas pelos indígenas à figura mitológica do Pay Sumé, constituiriam, até hoje, parte dessas estradas pré-colombianas.

O traçado do Peabiru de Florianópolis a Tacna no Peru.




A pesquisa de Igor Chmyz, da Universidade Federal do Paraná, identificou cerca de 30 quilômetros remanescentes da trilha na área rural de Campina da Lagoa (PR). Nos atuais estados do sul do Brasil existem trechos preservados de um caminho muito peculiar que vem sendo interpretados como ramais do caminho do Peabirú. Segundo alguns cronistas, que passaram pelo Peabiru durante o século XVI, o caminho formava um leito coberto por gramíneas. Portanto, antes da chegada dos europeus, o Peabiru já havia se tornado um fator de integração entre os povos indígenas do atlântico e do pacífico, por meio de troca de produtos, sementes e conhecimento no manejo da terra, tendo sido depois utilizado pelos jesuítas e bandeirantes.



Por outro lado, nos séculos XV e XVI, o Império Inca se espalhou por seis países sul-americanos (Chile, Argentina, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia). Para integrar esse grande império, os incas desenvolveram um eficiente sistema de caminhos e estradas. Dois caminhos que se direcionam do oeste andino para o leste amazônico têm sido estudados. Um ao norte, para integrar e comercializar a matéria-prima aurífera de Roraima (Brasil); o outro, ao Sul, era o grande Peabiru.

Migrações Tupi-Guarani

Conforme Alfredo José Altamirano, os incas podem ter realizado algum intercâmbio com as civilizações amazônicas, marajoaras, tapajós, omáguas, jivaros, mojos e xinguana, entre outras, por meio da troca de produtos, alimentos e sementes. Entre essas culturas estava disseminado o manejo da “terra preta”, um tipo de solo fértil antropogênico, resultante da ação humana, produzido pela combinação de carvão vegetal, cerâmica e matéria orgânica de origem vegetal e animal.



Pesquisas recentes apontam que, entre os séculos X e XIII, os guaranis, do grande tronco linguístico tupi-guarani, migrando de Rondônia, teriam se disseminado pelo Equador, Peru, Bolívia, Guiana francesa, Paraguai e Uruguai, incluindo Argentina e parte do norte de Chile. No Brasil, um grupo (guarani) seguiu do rio Madeira para a bacia do Paraná, chegando ao Rio Grande do Sul antes de iniciar sua rota para leste e para o norte, seguindo então o litoral brasileiro até o Paraná. Outro grupo (tupi) desceu pelo litoral norte-nordeste até o sul de São Paulo. Construíram várias trilhas pela floresta, o Peabiru (que significa o “caminho ao Peru”), locomoviam-se, também, pelas redes fluviais, movimentando-se de acordo com as pressões sociais, políticas e ritualísticas em busca da “terra sem mal”. Presume-se que seria um período de intenso conflito caracterizado pelas chefias tardias devido ao incremento demográfico, agricultura, especialização na pesca, artesanato e sua religião xamânica, podendo significar também que nessa migração do rio Madeira para a bacia do Paraná, os guaranis teriam estabelecido algum tipo de contato com as civilizações pré-inca e inca, contrariando boa parte do pensamento acadêmico que rejeita esse contato antes do século XV.

Concepção artística de um aterro de uma aldeia da civilização Marajoara há 500 anos.



Vaso da Civilização Marajoara PA



Vaso da Civilização Tapajônica - PA

Concepção artística de como seria um geoglio na Bolívia (llanos de mojo) há 500 anos.


                                          Geoglifo - AC




Para Martin Pärssinen, a ideia corrente de que os guaranis não teriam penetrado a área de fronteira Inca, na Bolívia, antes dos séculos XV ou XVI, tem de ser rediscutida. Examinando a documentação histórica e baseada em datações radiocarbônicas obtidas em sítios na Bolívia oriental, com presença de cerâmica corrugada e ungulada, Pärssinen conclui que os primeiros grupos guaranis teriam entrado na atual Bolívia mais de mil anos antes do estimado.

Concepção artística da Cidade Fortificada de Kuhikugu - MT

O papel do Peabiru e suas ramificações na integração cultural pré-colombiana da América do Sul é mais antigo do que se imaginava. As recentes descobertas dos geoglifos amazônicos (nas fronteiras de Brasil, Bolívia e Peru), as ruínas de cidadelas e fortificações pré-incas como Miraflores e Las Piedras (Bolívia), a civilização hidráulica de llanos de mojos (Bolívia), os muros de pedra de origem pré-colonial desconhecida da Serra da Muralha e Labirinto da Baia Redonda (Rondônia), e os restos da antiga cidade fortificada de Kuhikugu, conforme o trabalho do arqueólogo Michel Heckenberger no parque nacional do Xingu, obriga necessariamente um aprofundamento de como se deu essa integração dos povos indígenas e suas relações culturais através de estudos multidisciplinares obrigando os historiadores a repensar o passado sul-americano.


                                         Serra da Muralha - RO

Nas palavras de André Essenfelder Borges, em sua dissertação de mestrado sobre o Peabiru, “as interpretações sobre esta trilha são diversas e, a partir do contraste entre os discursos da oralidade popular e memória, história e escrita erudita, dos seus usos e significados em vários contextos, localizando durante o processo o local que ocupa o elemento indígena, a memória pessoal e a história de cada cidade e região. Portanto, não haveria nem respostas fechadas, nem uma busca pela verdade, mas pelas interpretações da realidade ou construções contextualizadas e como estas se compõem e se relacionam”.

                                     Labirinto da Baia Redonda - RO


                                   Cidadela pré-inca de Miraflores - Bolívia

                                  Fortaleza Inca de Las Piedras - Bolívia

Faca Cerimonial de Origem Inca

O Museu Julio de Castilhos tem alguns objetos que testemunham esse processo de integração dos povos indígenas sul-americanos. As Máscaras Kalapalo e a Faca Cerimonial Inca são testemunhos desse passado de integração.


              Faca Cerimonial de origem inca do acervo do Museu Julio de Castilhos

Em 1524, Aleixo Garcia, um náufrago português, ao saber da existência de peças de ouro, machados e facas cerimoniais de metal provenientes dos Andes, organizou uma expedição com cerca de 2000 índios Guaranis, utilizando a rota do Peabiru da ilha de Santa Catarina até a fronteira do Império Inca, próximo de Potosí, Peru. 


          Faca Cerimonial de origem Inca do acervo do Museu Julio de Castilhos

O Museu Julio de Castilhos, possui em seu acervo uma faca cerimonial de origem inca. As facas cerimoniais utilizadas pelos incas eram de vários tipos e tamanhos. A mais conhecida era a faca tumi, uma lâmina em formato circular ou semicircular, que antes do contato com o europeu era feita de bronze, cobre, ouro ou prata. Após a chegada destes, os incas passaram a produzir este objeto também em ferro. Os cabos, na maioria, eram retangulares ou trapezoides ricamente trabalhados. A faca cerimonial de origem inca do Museu Julio de Castilhos, tem seu cabo feito de cobre e bronze com motivos incaicos. A lâmina, todavia, é feita de ferro o que indicaria que parte desse objeto pode ter sido manufaturado após a chegada dos europeus.

                                                     Faca Tumi Inca




Em sua cosmovisão, os incas eram filhos do deus sol, Inti, para o qual realizavam diversas cerimônias. As facas cerimoniais eram utilizadas pelos sacerdotes em festivais, oferendas, sacrifícios rituais (de lhamas e/ou humanos), abrindo o peito, arrancando o coração e as vísceras, oferecendo-os a Inti. Também se fazia uso das facas cerimoniais nas operações médicas, principalmente em procedimentos neurológicos, os quais o paciente poderia passar por uma perfuração craniana realizada pelos hampi-camayoc (mestres dos remédios), entre outros tratamentos.

As Máscaras Kalapalo

Conforme a antropóloga Ellen Basso, os Kalapalo são um dos quatro grupos de língua Karib que habita a região do Alto Xingu, englobando o Parque Indígena do Xingu. Algumas semelhanças entre mitos kalapalo e ye´cuana sugerem que os ancestrais dos Karib xinguanos deixaram a região das Guianas em tempos recentes, certamente depois de contatos com espanhóis, intensificados na região durante a segunda metade do século XVIII. Atualmente, os Kalapalo vivem em oito aldeias Aiha, Tanguro, Agata, Caramujo, Kunue, Lago Azul e Kaluane, todas no Rio Kuluene e seus afluentes, e na aldeia Tupeku, no limite sudeste do Parque.

                                                   Mascara Kalapalo

Os Kalapalo costumam ter algumas opções para conformar grupos, porém suas escolhas são mais dependentes das relações pessoais entre indivíduos do que do pertencimento a um clã, filiação religiosa ou direitos e obrigações para com os ancestrais. O seu sistema de terminologia de relações parece acomodar essa flexibilidade e fornecer um meio para nomear precisamente a relação entre indivíduos em um sentido ao mesmo tempo social e emocional. Em um sentido mais geral, ifutisu pode ser definido como uma ausência de agressividade pública - por exemplo, ser habilidoso para falar em público e não provocar situações que causem desconforto aos outros – e pela prática da generosidade – como a hospitalidade e a predisposição para doar ou partilhar posses materiais.

                                                   Máscara Kalapalo

Os Kalapalo acreditam que a viabilidade da sociedade depende do cumprimento desse ideal. Entre os rituais chamados undufe, estão as performances que incluem apenas os membros de uma aldeia particular. Esses rituais incluem os kana undufegi, "undufe dos peixes"; os Eke undefegï, “undufe das cobras”; Fugey oto, ou "ritual do mestre dos arcos"; Agë, o “ritual da mandioca” realizado no momento da colheita, quando as Plêiades tornam-se visíveis; Afugagï; e outros que envolvem a manufatura e o uso de máscaras associadas aos itseke, "donos" da música: Kafugukuegï (“ritual do macaco bugio”); Afasa (“ritual canibal da floresta”); Zhakwikatu, Kwambï e Piju (“seres aquáticos poderosos”); e Atugua (“undufe do redemoinho”).

                                                   Máscara Kalapalo


BIBLIOGRAFIA

Altamirano, Alfredo José - Importância da Arqueologia Para a Integração da América do Sul: O Legado do Império Inca, in Caderno de Artigos do Seminário “América do Sul em Debate: Perspectivas da Integração” - UFRJ, Rio de Janeiro, 2008

Basso, Ellen, Kalapalo - https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kalapalo - consultado em 19/11/2018.
Borges, André Essenfelder Caminhos da Cultura Indígena: O Peabiru e o Neoindianismo -  dissertação de mestrado UFSC, Florianópolis, 2006
Cavalcanti, Tiago Leandro Vieira – O Mito do São Tomé Americano e a Circularidade Cultural na América Colonial, Revista de História Regional 13(1): 65-93, UFGD, Verão, 2008
Combès, Isabelle – El Paititi y Las Migraciones Guaraníes, in Paititi Ensaios y Documentos, Instituto Latinoamericano de Misionología, Bolívia, 2011

Combès, Isabelle - El Candire de Condori. El Saypurú inca y la “tierra sin mal in Arqueologia, Etnologia e Etno-história em Iberoamérica - UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Dourados, 2010

Leveratto, Yuri - Expedição a cordilheira de Paucartambo: as ruinas de Miraflores, http://www.academia.edu/12323481/Expedi%C3%A7ao_a_cordilheira_de_Paucartambo_as_ruinas_de_Miraflores 2011 – consultado em 19/11/2018.
Leveratto, Yuri – Expedição na selva de Rondonia: a Fortaleza do rio Madeira, http://www.academia.edu/12323244/Expedi%C3%A7%C3%A3o_na_selva_de_Rond%C3%B4nia_a_Fortaleza_do_Rio_Madeira 2011  - consultado em 19/11/2018.
Leveratto, Yuri – Expedición em La selva Del Río Guaporé: El sitio arqueológico de ciudadLaberinto,http://www.academia.edu/12322905/Expedici%C3%B3n_en_la_selva_del_R%C3%ADo_Guapor%C3%A9_el_sitio_arqueol%C3%B3gico_de_ciudad_Laberinto?auto=download 2011 - consultado em 19/11/2018.
Pärssinen, Martin - Quando começou, realmente, a expansão guarani em direção às Serras Andinas Orientais? - Revista de Arqueologia, Universidade Federal do Pará, 18: 51-66, 2005
Prada, Cecilia Peabiru, a trilha misteriosa 2011
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/5670_PEABIRU+A+TRILHA+MISTERIOSA
Vídeo - Caminho de Peabiru - De Lá Pra Cá - 27/11/2011