quarta-feira, 31 de outubro de 2018

FACA CERIMONIAL INCA

FACA CERIMONIAL INCA - INTEGRAÇÃO PRÉ-COLOMBIANA NA AMÉRICA DO SUL

        


Nos séculos XV-XVI, o Império dos Incas se espalhou por seis países andinos (Chile, Argentina, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia). Para integrar esse grande império, os incas desenvolveram um eficiente sistema de caminhos e estradas. Dois caminhos que se direcionavam do oeste andino para o leste amazônico têm sido estudados. Um ao norte, para integrar e comercializar o ouro de Roraima (Brasil); outro, ao Sul, o grande “Peabiru”, uma trilha pela floresta que saía de Cusco, atravessava o rio Madre de Dios (Peru), Beni (Bolívia), Rondônia, Mato Grosso e São Paulo (Brasil). Para alguns pesquisadores, como Rosana Bond e o historiador Igor Chmyz, esse caminho foi criado pelos indígenas brasileiros. Já, para o historiador Luiz Galdino, ele seria de origem inca. Existe uma terceira hipótese que defende que o Peabiru foi uma obra tanto de indígenas brasileiros quanto dos incas.








Independentemente de sua origem, o caminho do Peabiru, formado por um leito coberto por gramíneas, foi uma estrada com cerca de 4 mil quilômetros, que atravessava os territórios de Bolívia e Paraguai, além do Brasil, Peru e Chile. Existiam ramificações ligando a Amazônia até o Rio Grande do Sul e mesmo ao Rio da Prata, sendo também um fator de integração por meio de troca de produtos, vindo a ser utilizado pelos jesuítas e bandeirantes.




Os Tupi-guaranis utilizavam o Peabiru. Acredita-se que uma onda migratória ocidental teria se dirigido pelo rio Madeira para a bacia do Paraná, atingindo o Rio Grande do Sul antes de iniciar sua rota para leste e para o norte, seguindo então o litoral brasileiro até o Paraná. Outro grupo desceu pelo litoral norte-nordeste até o sul de São Paulo, onde as duas populações, proto-Tupi e proto-Guarani, teriam se encontrado de forma belicosa. Essas migrações teriam ido em busca da “Terra Sem Mal”, um paraíso mítico. Esse fato parece sustentar a hipótese de hábitos migratórios tradicionais. Mas não há prova de que tais movimentos tenham ocorrido na pré-história.



Pesquisas atuais apontam para a existência de confrontos entre os Guaranis e os Incas já no século XV. Aleixo Garcia, náufrago português, ao saber da existência de peças de ouro, machados e facas de metal provenientes dos Andes, organizou, em 1524, uma expedição reunindo cerca de 2000 índios Guaranis, utilizando a rota do Peabiru, saindo da ilha de Santa Catarina e chegando às fronteiras do Império Inca.



As facas cerimoniais utilizadas pelos incas eram de vários tipos e tamanhos. A mais conhecida era a faca tumi, uma lâmina em formato circular ou semicircular, que, antes do contato com o europeu, era feita de bronze, cobre, ouro ou prata. Após a chegada destes, os incas passaram a produzir este objeto também em ferro. Os cabos, na maioria, eram retangulares ou trapezoidais ricamente trabalhados. Em sua cosmovisão, os incas eram filhos do deus sol, Inti, para o qual realizavam diversas cerimônias. As facas cerimoniais eram utilizadas pelos sacerdotes em festivais, oferendas, sacrifícios rituais (de lhamas e/ou humanos), abrindo-se o peito, arrancando o coração e as vísceras, oferecendo-os a Inti. Também se fazia uso das facas cerimoniais nas operações médicas, principalmente em procedimentos neurológicos, os quais o paciente poderia passar por uma perfuração craniana realizada pelos hampi-camayoc (mestres dos remédios) entre outros tratamentos.


Claus Farina - Historiador/Analista em Assuntos Culturais


BIBLIOGRAFIA

Altamirano, Alfredo José - Importância da Arqueologia Para a Integração da América do Sul: O Legado do Império Inca, in Caderno de Artigos do Seminário “América do Sul em Debate: Perspectivas da Integração” - UFRJ, Rio de Janeiro, 2008

Borges, André Essenfelder Caminhos da Cultura Indígena: O Peabiru e o Neoindianismo -  dissertação de mestrado UFSC, Florianópolis, 2006

Combès, Isabelle – El Paititi y Las Migraciones Guaraníes, in Paititi Ensaios y Documentos, Instituto Latinoamericano de Misionología, Bolívia, 2011

Combès,  Isabelle - El Candire de Condori. El Saypurú inca y la “tierra sin mal in Arqueologia, Etnologia e Etno-história em Iberoamérica - UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Dourados, 2010

Prada, Cecilia Peabiru, a trilha misteriosa 2011
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/5670_PEABIRU+A+TRILHA+MISTERIOSA

Vídeo - Caminho de Peabiru - De Lá Pra Cá - 27/11/2011